Entre a rua e o para-brisa a minha sombra me imita,
mesmo eu tão a passos largos contra o farol alto.
Adormeci um instante e não mudava, o meu semblante
na calçada anunciava o mesmo, a esmo, sinal
de trânsito extra-excitante;
em meio a tantos olhos grandes
luminosos me dizendo tchau.
Chame a polícia, a missa, o jornal;
me chame louco, marginal:
só não me diga o que é por bem ou mal,
que atravessar a rua é fácil – eu sei e ei de repetir trajetos feitos –
mas se eu vim aqui por meu jeito próprio de pensar não dava pra tentar falar
encontro é o que corpos precisam pra parar.
Entre a rua e o para-brisa a minha sombra me remeda
mesmo eu tão já remendado. A pena fere mais,
que a dor me ensina o instante da pancada
e o meu semblante na calçada anunciava o mesmo, a esmo, sim e não.